A série Katamari sempre viveu no limite entre o nonsense e o genial, e Once Upon a Katamari reafirma esse equilíbrio com um sorriso bobo no rosto. A Bandai Namco conseguiu o que parecia improvável: reviver a fórmula de rolar tudo o que se vê pela frente, de borrachas a templos gregos, e fazê-la parecer nova, mesmo quando o absurdo é o mesmo de sempre.
Logo de início, o jogo abraça sua própria loucura. O Rei do Cosmos, em mais um de seus atos de gloriosa incompetência, destrói o universo enquanto tenta evitar a faxina. É um começo tão idiota quanto cativante, e define perfeitamente o tom de uma aventura onde o caos é a regra e a lógica fica em segundo plano. Cabe ao Príncipe, claro, reconstruir o cosmos, de quebra, viajar no tempo para capturar a essência da humanidade em uma bola de lixo cósmico.
Uma jornada pelo tempo (e pelo absurdo)
A estrutura de Once Upon a Katamari é deliciosa em sua simplicidade: mais de 50 fases espalhadas por nove eras históricas, que vão do Japão feudal à Grécia Antiga. Cada uma delas é uma celebração da bagunça bem planejada, um amontoado de objetos, criaturas e situações que só poderiam existir no universo excêntrico da série.
O novo hub, a nave SS Prince, adiciona um charme especial. Serve como base de operações, mas também como playground para personalizar o Príncipe e seus primos, pequenas figuras igualmente ridículas e encantadoras. É um toque de carinho que dá mais personalidade ao jogo e reforça o senso de comunidade dentro desse cosmos lunático.

Rolando o mundo (e rindo dele)
A jogabilidade, no fundo, é a mesma de sempre: empurrar uma bola crescente de tralhas até que ela se torne um monumento à acumulação sem propósito. Mas Once Upon a Katamari encontra novas formas de brincar com isso. A inclusão de itens como ímãs, foguetes e cronômetros adiciona pequenas camadas de estratégia e ritmo, ainda que sem mudar radicalmente o fluxo do jogo.
O verdadeiro espetáculo, porém, está nas fases. Cada uma é uma obra de humor visual e design criativo, da “Caça aos Filósofos”, em que você literalmente enrola Sócrates e Aristóteles, à sombria “Muitos Yokai”, uma jornada iluminada por lanternas sobrenaturais no Japão. São nesses momentos que o jogo atinge seu auge: quando o absurdo encontra a poesia.
Entre o encanto e a repetição
Por mais encantador que Once Upon a Katamari seja, ele tropeça quando se acomoda demais na própria fórmula. Há fases brilhantes que exploram mitos e épocas de forma inventiva, mas outras parecem apenas reciclar o velho “faça um Katamari gigante antes do tempo acabar”. E quando o jogo te faz rolar deuses e dinossauros, é difícil se empolgar com uma fase sobre… frutas.
Essa irregularidade também afeta o ritmo. Depois de vivenciar os picos de criatividade, é impossível não desejar que o jogo ousasse mais, que arriscasse ideias novas com a mesma coragem com que abraça o absurdo.


Um retorno que vale o caos
Mesmo sem reinventar completamente a roda (ou o Katamari), Once Upon a Katamari é um retorno triunfante. Ele preserva o espírito da série, o humor, a trilha sonora deliciosa e o charme despretensioso, enquanto polimenta tudo o que já funcionava.
No fim das contas, é um jogo que entende seu próprio poder: transformar o mundano em magia, o lixo em arte e o caos em beleza. E talvez seja isso o mais bonito em Katamari, a lembrança de que, no meio da bagunça, sempre há espaço para o encantamento.

Once Upon a Katamari é um daqueles jogos que te fazem sorrir sem saber exatamente por quê. Falta-lhe a ousadia para alcançar a grandeza dos melhores títulos do gênero, mas sobra charme, humor e uma sinceridade que poucos jogos possuem. É o caos elevado à categoria de arte pop, honestamente, é impossível não amar essa bagunça.
NOTA: 4 | de 5
Once Upon a Katamari está disponível para PlayStation®5, Xbox Series X|S, PC via Steam® e Nintendo Switch™.
Versão utilizada para análise | PC


