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Review | Storm Lancers: Precisão, desafio e puro vício

Storm Lancers deixa claro desde os primeiros minutos qual é a sua proposta. Em vez de apostar em uma narrativa complexa ou em longas explicações, o jogo prefere jogar o jogador direto no caos. Dois personagens são lançados em um planeta alienígena tomado por magia e, quase sem aviso, passam a carregar a responsabilidade de impedir que a realidade entre em colapso. É um ponto de partida simples, funcional e honesto com o que o jogo realmente quer oferecer: ação constante e repetição prazerosa.

Um planeta que insiste em não desistir

Tudo começa com uma queda inesperada em um mundo desconhecido. Ali, forças espirituais com aparência canina passam a guiá-lo, concedendo uma habilidade incomum: voltar à vida sempre que a morte acontece. Em vez de apostar em longas cenas ou diálogos explicativos, o jogo escolhe contar sua história de forma fragmentada, espalhando informações sutis entre a jogabilidade e pequenos textos apresentados a cada nova tentativa.

A proposta narrativa é direta e funcional. Você não está ali por acaso, aquele planeta precisa ser salvo, e cada incursão aprofunda um pouco mais essa responsabilidade. O enredo avança junto com o jogador, dando sentido ao ciclo de falhar, retornar e tentar novamente. Não há excesso de drama, mas existe propósito.

Esse equilíbrio faz diferença. A cada nova ressurreição, fica claro que o progresso não é apenas mecânico, mas também narrativo. Mesmo sem se alongar ou buscar complexidade desnecessária, a história cumpre bem sua função: dar significado à jornada e tornar o objetivo final algo que realmente importa.

Essa escolha conversa bem com a identidade do título. Desenvolvido pelo estúdio ProbablyMonsters, composto por nomes experientes da indústria, Storm Lancers sempre chamou atenção pela promessa de um roguelite cooperativo intenso, envolto em um visual estilizado e vibrante.

No aspecto visual, Storm Lancers constrói uma identidade forte e extremamente bem resolvida. As fases se destacam pelo uso inteligente de paletas vibrantes e contrastes bem definidos, garantindo que cenários, inimigos e efeitos sejam sempre facilmente reconhecíveis. Mesmo quando a tela é tomada por partículas, habilidades e explosões, a leitura da ação permanece clara, algo essencial para um jogo que aposta tanto no ritmo acelerado.

O design dos ambientes também merece destaque. As áreas não apenas impressionam esteticamente, como fluem de maneira natural, evitando a sensação de repetição. Em um dos momentos mais marcantes da campanha, o jogo quebra o padrão ao propor uma tarefa de transporte de energia para ativar um grande equipamento de escavação, introduzindo um desafio diferente que valoriza o cuidado na construção das fases e adiciona variedade à progressão.

A qualidade gráfica eleva a experiência como um todo. A combinação de definição, cores vivas e acabamento polido torna cada nova tentativa visualmente prazerosa, reforçando a sensação de estar jogando algo refinado e bem pensado.

Já a trilha sonora acompanha essa proposta com competência. As músicas são pulsantes e cheias de energia, ajudando a sustentar o ritmo intenso da ação. Embora não sejam faixas que fiquem martelando na memória após desligar o jogo, elas cumprem exatamente o papel esperado. Cada área conta com sua própria identidade sonora, e os confrontos contra chefes ganham variações mais intensas, ampliando a tensão sem jamais quebrar o fluxo da jogabilidade.

A estrutura de progressão sustenta bem o ciclo do jogo. Ao longo da campanha, novos personagens são liberados, cada um com habilidades únicas e estilos de jogo que alteram significativamente a forma de encarar os combates. Isso incentiva a experimentação, prolonga a vida útil e reforça a sensação de crescimento constante, elemento indispensável dentro do gênero roguelite.

É, no entanto, no gameplay que Storm Lancers encontra seu maior trunfo. A experiência foi claramente desenhada em torno da cooperação. Jogar em dupla transforma cada momento em uma mistura de estratégia improvisada, falhas compartilhadas e situações inesperadamente engraçadas. A necessidade de decidir entre ajudar o parceiro ou pensar apenas na própria sobrevivência cria momentos espontâneos que fazem cada partida parecer diferente da anterior.

O sistema de combate acompanha essa proposta com eficiência. Os confrontos são ágeis, exigem reflexos rápidos e leitura constante do campo de batalha. As melhorias surgem de forma aleatória, permitindo combinações variadas de habilidades, ainda que, com o tempo, algumas construções comecem a se repetir devido à variedade limitada de armas. Mesmo assim, o loop de avançar, cair, evoluir e tentar novamente permanece forte e viciante. A possibilidade de continuar jogando solo caso o parceiro saia evita que a experiência seja quebrada de forma abrupta.

Visualmente, Storm Lancers não economiza. Personagens exagerados, animações elásticas e efeitos mágicos intensos dominam a tela, reforçando o tom de desenho animado e energético do jogo. Em momentos mais caóticos, o excesso de partículas chama atenção, mas o desempenho se mantém estável. Talvez uma identidade visual mais marcante nos menus e na interface elevasse ainda mais, mas isso não chega a comprometer a experiência final.

Storm Lancers não tenta reinventar o gênero, mas entende perfeitamente o que faz um roguelite cooperativo funcionar. Ele é divertido, acessível, caótico na medida certa e claramente pensado para ser aproveitado em dupla. Mesmo com algumas limitações na variedade de builds a longo prazo, o carisma, o ritmo acelerado e a sensação constante de progresso fazem com que cada nova tentativa valha a pena.

No fim das contas, é aquele tipo de jogo que talvez não impressione pela ambição, mas conquista pela execução. Ideal para quem busca uma experiência cooperativa leve, intensa e cheia de momentos memoráveis, especialmente quando compartilhados com alguém no sofá ou online.

NOTA:  4 | de 5
★★★★☆

Storm Lancers é um jogo desenvolvido e publicado pela ProbablyMonsters, já disponível para Steam, Epic Games Store Nintendo eShop.

Versão utilizada para análise | PC

Criador de conteúdo do ON Pop Life, é apaixonado por cinema, cultura geek e pop japonesa. Atua há mais de 10 anos na cobertura de eventos, shows e já organizou eventos de anime.