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Crítica | Traição Entre Amigas: Quando o reencontro cura o passado

Traição Entre Amigas marca um ponto de virada na trajetória de Larissa Manoela no cinema. Conhecida por papéis mais leves e voltados ao público juvenil, a atriz surge aqui em um terreno mais denso e emocional, provando que consegue ir além da imagem que o público acostumou a ver desde a infância. O filme, dirigido por Bruno Barreto, usa uma história de amizade rompida como ponto de partida para tratar de amadurecimento, culpa e recomeço.

A trama acompanha duas amigas cuja relação é quebrada por uma “traição” que muda completamente o rumo de suas vidas. A princípio, tudo parece simples: um conflito, um afastamento, caminhos diferentes. Mas, à medida que o filme avança, fica claro que não se trata apenas de desentendimento juvenil, e sim de feridas profundas que moldam quem aquelas personagens se tornam. O roteiro aposta justamente nessa construção gradual, deixando o público descobrir aos poucos os impactos emocionais daquele rompimento.

Larissa Manoela, vivendo Penélope, entrega um trabalho cheio de nuances. Ela transita entre fragilidade, raiva, ressentimento e vontade de seguir em frente sem jamais soar artificial. É uma personagem que erra, cai, se contradiz, e isso a torna ainda mais humana. Ao seu lado, Giovanna Rispoli (Luiza) sustenta com segurança a outra ponta desse laço quebrado, construindo uma personagem igualmente marcada pelo passado, mas que encontra sua própria forma de amadurecer.

André Luiz Frambach (Gabriel) funciona como um ponto de apoio e, ao mesmo tempo, de conflito. Seu personagem orbita essas duas mulheres em momentos chave, ajudando a evidenciar as escolhas que elas fazem e as consequências delas. A dinâmica entre o trio é um dos grandes acertos do filme: os diálogos, mesmo quando simples, carregam peso emocional, e o elenco consegue dar veracidade a essas relações, fazendo com que o público se envolva com seus dramas.

Tecnicamente, Traição Entre Amigas não é isento de problemas. Alguns cortes soam bruscos, quebram a fluidez de determinadas cenas e podem tirar o espectador da imersão por alguns instantes. Há momentos em que a transição entre uma situação e outra parece apressada, como se algo tivesse ficado pelo caminho. Ainda assim, o conjunto se mantém sólido, porque a base emocional do filme é forte o suficiente para segurar o interesse até o fim.

O roteiro trabalha com duas linhas principais de história, que se alternam e, aos poucos, convergem. Essa escolha é feita com sutileza: as trajetórias de Penélope e Luiza nunca deixam de parecer conectadas, mesmo quando estão fisicamente distantes. Quando finalmente se reencontram, o filme entrega o que vinha construindo desde o início: um acerto de contas que não é apenas sobre revelar a verdade, mas sobre reconhecer as próprias falhas, perdoar e se permitir uma nova chance.

Um ponto interessante é que o filme não subestima o público. Ele não explica tudo de forma didática, nem entrega todos os passos. Para quem não leu o livro em que a obra se baseia, há surpresas ao longo do caminho, reviravoltas emocionais e eventos inesperados que mantêm a história viva. Essa opção torna a jornada das personagens mais envolvente e reforça a ideia de que a vida é imprevisível, cheia de quedas, mas também de oportunidades de reconstrução.

Outro destaque é a escolha de ambientação, Traição Entre Amigas se passa em Curitiba. A cidade não é apenas um pano de fundo: ela contribui para o clima da narrativa, oferecendo paisagens diferentes do que normalmente vemos e ajudando a trazer um ar de novidade à produção. Esse deslocamento geográfico também ajuda o filme a se destacar em meio a tantos dramas urbanos genéricos. Já a escolha de Nova York como parte da ambientação traz um novo fôlego à narrativa. O contraste entre a rotina em Curitiba e o ritmo acelerado da metrópole evidencia a transformação de Penélope: ela sai da culpa e da insegurança para buscar independência, novos sonhos e um sentido diferente para sua vida.

A trilha sonora acompanha bem o tom das cenas, reforçando emoções sem exagerar. Nos momentos mais leves, funciona como respiro; nos mais intensos, sublinha a dor, as lembranças, o peso daquilo que foi dito, ou nunca foi dito. Ela complementa o roteiro sem roubar a cena, o que é um mérito em produções que lidam tanto com o íntimo das personagens.

Em meio a tudo isso, a mensagem central se mantém clara: amadurecer é, muitas vezes, aprender a lidar com o que não deu certo. Penélope e Luiza são duas jovens que tiveram a amizade destruída, mas que, em vez de ficarem presas para sempre à mágoa, escolhem encarar o passado e tentar algo novo. O filme mostra que recomeçar não apaga o que aconteceu, mas pode dar um novo sentido ao que antes era apenas dor.

Traição Entre Amigas é um drama que começa com aparência de leve, mas, pouco a pouco, revela uma profundidade emocional rara nas produções nacionais voltadas ao público jovem. Com boas atuações, especialmente de Larissa Manoela e Giovanna Rispoli, um roteiro que valoriza o amadurecimento e uma ambientação que foge do óbvio, o longa entrega uma história sincera sobre perdão, escolhas e segundas chances. No fim, Traição Entre Amigas nos lembra que ninguém é definido apenas pelos seus erros, e que sempre existe espaço para uma “vida nova”, desde que a gente tenha coragem de encarar o passado e decidir recomeçar.

NOTA:  4 | de 5

Direção: Bruno Barreto

Roteiro: Thalita Rebouças e Marcelo Saback

Produção: LC Barreto Productions em parceria com Imagem Filmes

Distribuição: Imagem Filmes

Elenco principal: Larissa Manoela (Penélope), Giovanna Rispoli (Luiza), André Luiz Frambach (Gabriel), Gabrielle Joie (Emília), entre outros.

Traição Entre Amigas será lançado nos cinemas no dia 11 de dezembro, com distribuição da Imagem Filmes

Criador de conteúdo do ON Pop Life, é apaixonado por cinema, cultura geek e pop japonesa. Atua há mais de 10 anos na cobertura de eventos, shows e já organizou eventos de anime.