“Make a Girl” é o tipo de obra que começa como ficção científica e termina como reflexão existencial. O filme de Gensho Yasuda, nascido do curta de sucesso Make Love (2020), amplia aquela ideia inicial, um jovem gênio que cria uma namorada artificial, para algo muito mais profundo: uma história sobre solidão, obsessão e o desejo humano de compreender o que significa amar.
Akira, o protagonista, é um inventor brilhante, mas emocionalmente bloqueado. Ele passa os dias obcecado por equações e experimentos, até que vê seu amigo Kunihito se transformar após se apaixonar. Movido por curiosidade e talvez por inveja, Akira decide testar uma hipótese impossível: será que o amor pode ser recriado cientificamente? A resposta ele busca no laboratório, onde nasce Zero, uma androide feita para amar. Só que o que começa como um projeto de pesquisa logo se transforma em espelho e Akira percebe que a criatura que criou reflete sua própria incapacidade de sentir.


A narrativa conduzida por Yasuda é sutil e provocante. O diretor usa o conceito de inteligência artificial não apenas como ferramenta de ficção, mas como metáfora para o isolamento humano. Em vez de explorar a relação homem-máquina de forma grandiosa, ele a transforma em algo íntimo e melancólico. A cada interação entre Akira e Zero, o filme expõe a tensão entre o amor idealizado e o amor real entre o controle e a entrega.
Visualmente, “Make a Girl” é um espetáculo. A animação em CGI é de uma precisão impressionante, com texturas, luzes e movimentos que criam uma atmosfera quase palpável. Há um cuidado visível em cada detalhe: o reflexo metálico dos equipamentos, o movimento sutil dos cabelos, o brilho difuso das cenas noturnas. É uma produção que mostra como ferramentas acessíveis, como o Blender, podem gerar resultados dignos de grandes estúdios. A dublagem, encabeçada por Atsumi Tanezaki (a voz de Anya em Spy x Family), acrescenta camadas emocionais aos personagens, tornando-os ainda mais humanos.
Outro mérito do filme é sua capacidade de surpreender. Yasuda não segue o caminho fácil da comédia romântica ou da tragédia previsível. O roteiro evolui com calma, até atingir um clímax que amarra perfeitamente a jornada de Akira e Zero. O filme fala sobre a criação, seja ela biológica, emocional ou tecnológica, como um ato de busca. Akira quer compreender o amor; Zero quer descobrir o que é viver. E é nesse encontro entre o criador e a criatura que o filme encontra sua poesia.

‘Make a Girl‘ é uma das experiências mais cativantes e sensíveis da animação recente. Por trás da estética futurista, há um retrato íntimo sobre o desejo humano de dominar o incontrolável, e sobre a inevitável descoberta de que o amor não se programa, apenas acontece. Yasuda transforma o CGI em arte emocional, criando uma obra que é ao mesmo tempo visualmente deslumbrante e emocionalmente devastadora. Um filme para ver, sentir e pensar muito depois dos créditos finais.
NOTA: 4 | de 5

Direção, Roteiro, Design de Personagens e Direção de Arte: Gensho Yasuda
Produção: Aniplex /Studio KADOKAWA
Gênero: Ficção científica, Suspense psicológico
País e ano de produção: Japão, 2024
Duração: 92 minutos
Distribuição no Brasil: SATO Company
ELENCO DE VOZ
Atsumi Tanezaki – N°0
Shun Horie – Akira Mizutame
Toshiki Masuda- Kunihito Obayashi
Sora Amamiya – Akane Yukimura e Solt
Youji Ueda – Shoichi Takamine
Make a Girl estreia nos cinemas brasileiros em 13 de novembro.


