
Em seu mais novo projeto, o diretor Caco Souza, em parceria com a A2 Filmes, apresenta “Atena”, um thriller nacional intenso e sombrio estrelado por Mel Lisboa e Thiago Fragoso. O longa mergulha no universo da violência doméstica com uma protagonista marcada por cicatrizes profundas, e uma missão mortal.
Mel Lisboa dá vida a Atena, uma mulher que carrega as feridas de um passado de abuso sexual cometido pelo próprio pai. Anos depois, ela canaliza essa dor em uma série de ações implacáveis contra homens que agridem mulheres e crianças. Mais do que uma justiceira, Atena se torna a execução de uma vingança íntima e coletiva, como se quisesse corrigir, uma a uma, as injustiças que o sistema insiste em ignorar.
Ao lado dela está Carlos (Thiago Fragoso), um jornalista investigativo que se vê envolvido na caçada de Atena, enquanto tenta ajudá-la a desvendar o paradeiro de seu pai desaparecido, e talvez encarar, junto com ela, o desfecho inevitável.
Logo nos primeiros minutos, “Atena” não dá trégua: somos lançados numa perseguição tensa pelas ruas de Gramado, em meio à trilha sonora cortante e uma atmosfera de suspense cuidadosamente construída. É nessa sequência que somos apresentados à meticulosidade com que Atena escolhe e caça seus alvos, sempre homens com histórico de abuso, e nunca ao acaso.
Sem recorrer a cenas explícitas ou chocantes, o filme encontra força na sugestão e no impacto emocional. A cada confronto, o roteiro deixa claro o porquê de cada vítima: a narrativa se constrói como um quebra-cabeça de dor, redenção e, acima de tudo, sobrevivência.
“Atena” constrói com firmeza, mas tropeça ao se aproximar do fim
Durante grande parte de sua duração, “Atena” se mostra um suspense afiado e bem conduzido. O desenvolvimento é firme, os personagens ganham corpo e a narrativa prende com segurança. No entanto, ao chegar ao seu terceiro ato, o filme parece perder o foco, e com isso, parte da força que vinha sustentando a história até ali se esvai.
A reta final carece de coesão: as decisões narrativas se tornam menos precisas, o ritmo se dispersa, e alguns arcos que pareciam promissores simplesmente desaparecem. Personagens que foram apresentados com peso desaparecem sem qualquer resolução, como se tivessem sido esquecidos pelo roteiro. É um baque para um filme que até então mostrava domínio sobre sua própria trama.
Em termos técnicos, porém, “Atena” brilha. A trilha sonora assinada por Ricardo Severo é um dos pontos altos da obra, pontuando com sensibilidade e tensão cada virada dramática. A montagem precisa de Leonardo Domingues e Taís Palinski costura o material com agilidade e impacto, trabalhando bem com o que o roteiro de Enrico Peccin oferece. Infelizmente, é exatamente o roteiro que se mostra o elo mais frágil quando mais se exige dele. Ao tentar amarrar os fios soltos com pressa e pouca clareza, ele compromete parte da experiência.
Mesmo com suas falhas, Atena se impõe como um filme que não passa despercebido. Pode não manter a força até o final, mas o que deixa marcado é sua coragem em encarar de frente temas difíceis e urgentes. A jornada pode vacilar em certos momentos, mas a inquietação que provoca no espectador permanece, e talvez seja justamente aí que reside sua relevância.
NOTA: 3 | de 5Título Original: Atena
Direção: Caco Souza
Roteiro: Enrico Peccin
Elenco: Mel Lisboa, Thiago Fragoso, Lui Mendes, Gilberto Gawronski, Bruno Krieger, Luiz Franke, Mari Amaral, Jéssica Nigro, Marcelo Crawshaw, Marcos Verza
Distribuição: A2 Filmes
Brasil | 2023 | 85 Min. | Drama – Suspense – Policial
Lançado nos cinemas brasileiros em 31 de julho, o filme já está em cartaz nas principais salas do país. Confira o trailer:
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