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Crítica | Ne Zha 2: Quando a animação chinesa alcança o épico

No começo de 2025, Ne Zha 2 surpreendeu o mundo ao superar Divertida Mente 2, da Pixar, e conquistar o posto de animação mais lucrativa da história do cinema. Agora, meio ano após sua estreia avassaladora na Asia, o épico finalmente chega ao Brasil pela A2 Filmes, um lançamento que promete não só apresentar o herói ao grande público local, mas também mostrar até onde a animação chinesa pode ir em termos de ambição, qualidade e alcance global.

A história começa imediatamente após o primeiro filme. O mestre Taiyi Zhenren ressuscita Ne Zha e Ao Bing por meio do Lótus Sagrado, mas logo a paz é interrompida pelo ataque de Shen Gongbao. Ferido ao defender Chentang, Ao Bing precisa dividir o corpo de Ne Zha enquanto busca uma cura. A dupla parte em direção a Wuliang, líder da seita celestial Chan, enfrentando provações que testam não apenas suas habilidades, mas também sua identidade e visão de mundo.

Vale ressaltar que, logo no início, o filme contextualiza rapidamente os acontecimentos do primeiro longa, mostrando o destino de Ne Zha e Ao Bing e explicando como morreram e se tornaram almas, assim, você não se perde na história.

Yu Yang retorna como roteirista e diretor e entrega um espetáculo que amplia tudo: narrativa, emoção, ação e qualidade técnica. São 4.000 animadores de 138 estúdios trabalhando em conjunto, e o resultado é hipnótico. Não se trata apenas de partículas ou texturas realistas, mas de um domínio da linguagem da ação. As batalhas equilibram humor e coreografias criativas com um peso dramático crescente. Cada cena de luta é mais impressionante que a anterior, sem perder o senso de ritmo e clareza.

O humor inicial mantém a leveza do primeiro filme, mas logo o tom se aprofunda em uma virada ousada, talvez uma das mais sombrias já vistas em uma animação. A partir daí, o filme encontra um equilíbrio raro: a ação cresce em intensidade enquanto o drama ganha densidade emocional. O visual é deslumbrante: iluminação, texturas, cenários e peso dos movimentos tornam cada quadro vibrante e palpável.

O coração do longa, porém, está no desenvolvimento de personagens. O conflito de Ne Zha em compartilhar o corpo com Ao Bing amplia de forma criativa o dilema de identidade já explorado antes. Ele sempre foi um jovem rebelde tentando controlar seus poderes e lidar com sua origem demoníaca; aqui, essa crise se torna mais profunda, ganhando camadas emocionais e momentos de fragilidade genuína. O arco de Shen Gongbao também surpreende: o que parecia ser um vilão genérico é transformado por uma subtrama que desconstrói suas motivações, tornando-o uma peça-chave do impacto narrativo.

Dublagem brasileira de Ne Zha 2 reúne nomes consagrados e aposta em intensidade dramática

À frente do protagonista, está Bianca Alencar, dubladora de personagens icônicos como Mabel em Gravity Falls, Twilight Sparkle em My Little Pony e a princesa Uta em One Piece Film: Red. Dar voz ao explosivo Ne Zha foi um desafio: Na pré-estreia Bianca revelou que chegou a perder a voz durante as gravações, ficando três dias sem conseguir falar por conta da intensidade ao dublar Ne Zha

Erick Bougleaux na fase adulta de Ne Zha, ganha camadas emocionais que revelam tanto sua rebeldia juvenil quanto sua força e determinação na fase mais madura. Ao Bing Na voz de Lucas Gama, Ao Bing é interpretado com uma sensibilidade que equilibra seu ar nobre e sua dualidade emocional. O personagem, que carrega suas próprias dores e responsabilidades, ganha profundidade através da interpretação de Lucas, que consegue expressar tanto o lado imponente quanto o vulnerável de Ao Bing.

Carina Eiras dá voz a Madame Yin com firmeza e mistério, trazendo à personagem uma presença marcante e cheia de nuances. Fernando Mendonça interpreta o mestre Taiyi com equilíbrio entre humor e sabedoria, destacando o lado excêntrico e ao mesmo tempo sábio do personagem. Tatá Guarnieri entrega um Shen Gongbao intenso e imponente, revelando as camadas emocionais que tornam o vilão mais humano e complexo.

Além deles, a dublagem brasileira de Ne Zha 2 reúne veteranos e talentos consagrados. Mattheus Caliano, que também assina a direção de dublagem, dá voz ao Cervo; Letícia Quinto interpreta a Rainha Ao Run; Gilberto Baroli, referência no mercado, dubla o Rei Ao Qin; Ana Helena de Freitas é a voz da Garça; e Alexandre Maguolo encarna Ao Guang. Com esse elenco experiente, a versão brasileira busca equilibrar emoção, intensidade e fidelidade à grandiosidade do origina

A presença de nomes tão fortes traz confiança para os fãs que costumam se dividir entre legendas e dublagem. O desafio, porém, não é pequeno. Ne Zha 2 exige grande amplitude emocional: transita entre batalhas épicas, humor físico, momentos de contemplação e até viradas sombrias que pedem peso dramático. A missão dos dubladores, portanto, vai além da interpretação: é preciso traduzir para o português não só o texto, mas também a intensidade do original.

Do ponto de vista técnico, a produção brasileira parece bem encaminhada. Com uma equipe experiente na direção e na mixagem, o resultado preservou tanto a clareza das falas quanto a grandiosidade da trilha e dos efeitos sonoros. Ne Zha 2 promete não apenas impressionar visualmente, mas também provar que a dublagem nacional pode acompanhar a grandiosidade de uma das maiores animações já produzidas.

É importante dizer: este é o filme de animação que precisamos agora. Yu Yang consegue unir espetáculo visual com um discurso radical, que dialoga diretamente com nosso presente. Ao colocar jovens protagonistas enfrentando um poder conservador que instrumentaliza a religião para oprimir comunidades, o filme ecoa debates políticos atuais e encontra um clímax de forte ressonância.

Ne Zha 2 é mais que um triunfo técnico ou uma sequência bem-sucedida. É uma obra que mistura ousadia estética, profundidade emocional e uma mensagem urgente. Depois de quatro sessões, ainda o considero o melhor filme de animação de 2025. Um épico que brilha tanto pela grandiosidade das batalhas quanto pela coragem de suas ideias.

NOTA:  5 | de 5

NE ZHA 2: O RENASCER DA ALMA  estreia exclusivamente nos cinemas no dia 25 de setembro em cópias dubladas e legendadas, nos formatos 2D e 3D, pela A2 Filmes, oferecendo ao público uma chance de vivenciar essa nova jornada épica de renascimento, redenção e coragem.

Título Original: 哪吒2 | Ne Zha 2
Direção: Yu Yang
Roteiro: Yu Yang, Xixing Lu, Zhonglin Xu
Elenco: Yanting Lü, Mo Han, Hao Chen, Gong Geer, Yuze Han, Joseph, Qi Lü, Deshun Wang, Xinglinr, Wei Yang, Yu Yang, Michael Yurchak, Jiaming Zhang, Yunqi Zhang, Yongxi Zhou
Distribuição: A2 Filmes

China | 2025 | 143 Min. | Animação – Ação – Aventura | 14 anos

Trailer dublado

Criador de conteúdo do ON Pop Life, é apaixonado por cinema, cultura geek e pop japonesa. Atua há mais de 10 anos na cobertura de eventos, shows e já organizou eventos de anime.