
Clássicos de Jorge Furtado ganham nova vida em 4K e retornam aos cinemas
Dois marcos do cinema nacional estão de volta às telonas a partir desta quinta-feira (29), agora em altíssima definição. Saneamento Básico, o Filme (2007) e o icônico curta Ilha das Flores (1989), ambos dirigidos por Jorge Furtado, foram restaurados em resolução 4K e serão exibidos dentro da Sessão Vitrine Petrobras, iniciativa de valorização do cinema brasileiro com apoio da Lei Rouanet.
À frente do processo de restauração, a curadora e coordenadora técnica Débora Butruce ressalta a importância de recolocar essas obras em circulação. “Oferecer esses filmes nas salas permite que uma nova geração acesse a cinematografia brasileira em cópias de qualidade.”
A reestreia desses títulos celebra não apenas o legado de Furtado, mas também a capacidade do cinema de se reinventar e alcançar novas gerações, agora com som e imagem impecáveis.
Memória em alta definição: filmes brasileiros ganham nova chance nas telas
Desde 2023, um silencioso trabalho de arqueologia cinematográfica vem trazendo de volta preciosidades do cinema nacional. A Hora da Estrela, de Suzana Amaral, e Durval Discos, de Anna Muylaert, são alguns dos títulos que voltaram a respirar nas telas graças a um dedicado processo de restauração.
Muito antes de a imagem brilhar novamente no projetor, há um longo caminho a percorrer. Tudo começa como uma investigação: onde estão os materiais originais? Em que estado se encontram? Depois vem a delicada etapa de análise das películas, o escaneamento para o formato digital e, por fim, o minucioso trabalho de recuperação da imagem e do som, como quem limpa cuidadosamente as camadas do tempo até revelar o que ainda pulsa por trás do desgaste.
É um trabalho técnico, mas, sobretudo, um gesto de memória. Um esforço para garantir que obras fundamentais da nossa cultura continuem a ser vistas, ouvidas e sentidas por novas gerações.
“Sempre buscando como referência a obra original. O projeto tem essa perspectiva de preservação. O intuito não é alterar a obra, mas trazer de volta toda a potencialidade que já está presente, mas que, por motivos diversos, tenha sofrido danos”, frisa Débora.
O maior desafio para a restauração é o estado dos materiais. “Isso é o que vai definir o caminho que a gente vai traçar, a metodologia de trabalho e o resultado, em certa medida. É um trabalho que pode levar de três a quatro meses”, comenta Débora.
Ver Ilha das Flores e Saneamento Básico reluzindo em 4K nas salas de cinema não é apenas um feito técnico, é também um gesto político e cultural. Para Joelma Gonzaga, que está à frente da Secretaria do Audiovisual, esse retorno às telas com alta qualidade representa o lugar que o cinema brasileiro merece ocupar: o de protagonista de sua própria história. “É mais do que um feito técnico, é um gesto de afeto com a memória cultural do nosso país. Essas obras fazem parte da formação de muitas gerações e, agora, podem ser redescobertas por novos públicos. É isso que o audiovisual também representa: um espaço de permanência, de reencontro, de transmissão de ideias, de identidade”, afirmou.
Entre o riso e o absurdo: dois clássicos que revelam o Brasil com ironia e precisão
Em Saneamento Básico, o Filme, uma pequena comunidade descendente de italianos, perdida na serra gaúcha, encontra uma forma inusitada de resolver um problema antigo: a falta de uma fossa. Já que os recursos públicos só podem ser usados para a produção de um vídeo, eles decidem… fazer um filme. Com humor afiado, o longa transforma burocracia em comédia e é conduzido por um elenco de peso: Wagner Moura, Fernanda Torres, Lázaro Ramos, Camila Pitanga, Paulo José, Tonico Pereira e Bruno Garcia, nomes que, além deste projeto, também brilharam em Cannes com outras obras marcantes.
Já Ilha das Flores, curta-metragem que virou referência internacional, é um soco de cinco minutos. Misturando sarcasmo, velocidade narrativa e indignação, o filme traça o caminho de um tomate até seu destino final: um lixão em Porto Alegre, onde se torna disputa entre os que nada têm. É um retrato duro e cínico das contradições do consumo e da desigualdade. Não por acaso, foi consagrado em festivais como Berlim, Clermont-Ferrand e Gramado, e em 2015 entrou para a lista dos 100 maiores filmes brasileiros de todos os tempos, segundo a Abraccine.
Duas obras, dois formatos, duas formas distintas, mas igualmente potentes de olhar para o Brasil.
Quinze anos de janela para o cinema brasileiro
Desde 2010, a Sessão Vitrine Petrobras tem sido uma vitrine viva do cinema nacional, e em 2025, a iniciativa comemora 15 anos ampliando ainda mais o alcance de obras brasileiras, tanto clássicas quanto contemporâneas.
Neste ano, dois novos títulos chegaram ao público por meio do projeto: Kasa Branca, de Luciano Vidigal, e O Melhor Amigo, dirigido por Allan Deberton, reafirmando o compromisso com a diversidade de vozes e olhares da produção atual.
Com apoio da Lei Rouanet, o projeto segue firme em sua trajetória de fomento. Autorizado pelo Ministério da Cultura a captar até R$ 1,83 milhão, já garantiu mais de R$ 1,12 milhão em investimentos, valores que ajudam a manter viva uma programação acessível, plural e espalhada por todo o país.
Mais do que exibir filmes, a Sessão Vitrine Petrobras transforma cada lançamento em um ponto de encontro entre obra e público. O projeto estimula o debate com sessões comentadas, realiza oficinas criativas com cineastas e roteiristas, e amplia o alcance das conversas por meio do videocast A Dobra, uma série de entrevistas descontraídas com as equipes dos filmes, disponível nas plataformas do YouTube e Spotify. É cinema que provoca, forma e circula.
Ainda segundo a secretária Joelma, apoiar iniciativas como essa, com recursos da Lei Rouanet, é “reafirmar que o Brasil valoriza suas histórias e seus criadores. O Ministério da Cultura tem um compromisso com a preservação do nosso cinema e com o direito de todas e todos de acessá-lo em sua melhor forma“, concluiu.
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